OLMO – poema de Sylvia Plath traduzido

Antônio LaCarne
2 min readOct 28, 2019

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Em homenagem ao aniversário de nascimento da poeta, traduzi livremente seu poema, um dos meus favoritos.

(Para Ruth Fainlight)

Eu conheço o fundo, ela diz. Conheço com o toque da minha raiz:

É o que você teme.

Eu não temo: eu já estive lá.

É o mar que você ouve em mim,

As suas insatisfações?

Ou a voz do nada, que era a sua loucura?

O amor é uma sombra.

Como você mente e chora por ele.

Ouça: estes são os seus cascos: que se foram, como arsênico.

Toda noite irei galopar, impetuosamente,

Até que sua cabeça vire pedra, seu travesseiro vire turfe,

Ecoando, ecoando.

Ou devo lhe trazer o som das poções?

Esta é a chuva agora, este silêncio imenso.

E este é o fruto: branco-metálico, como arsênico.

Eu sofri a atrocidade dos sóis poentes.

Queimados até a raiz

Meus filamentos vermelhos queimam e permanecem, emaranhado de arames.

Agora que me parto em pedaços que voam como clavas.

Um vento de evidências

Não irá tolerar testemunhas: eu devo gritar.

A lua, também, não tem piedade: ela me arrastaria

Cruelmente, sendo estéril.

Seu brilho me destrói. Ou talvez eu a tenha pego.

Eu a deixo seguir. Eu a deixo ir embora

Minguada e achatada, como depois de uma cirurgia radical.

Como seus pesadelos me possuem e me concedem.

Eu sou habitada por um clamor.

Toda noite ele vibra

À procura, com seus ganchos, de algo para amar.

Estou aterrorizada por esta coisa escura

Que dorme em mim;

O dia todo eu sinto sua suavidade, sua maciez, sua maldade.

Nuvens passam e se dispersam.

São estas as faces do amor, irrecuperavelmente pálidas?

É por isto que eu agito meu coração?

Sou incapaz de maior conhecimento.

O que é isto, este rosto

Tão assassino em seus galhos sufocantes? –

Seus ácidos venenosos sibilam.

Petrificam as vontades. Estas são as isoladas, lentas culpas

Que matam, que matam, que matam.

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